Dois anos de pandemia não conseguiram, mas o ano em que eu me mudei e casei conseguiu: em 2022, tivemos um total de zero posts nesse site. Mas, nesse ano novo, teremos mais posts e provavelmente o site será recauchutado e ficará mais acessível.
Este texto assume que você sabe o que é o Mastodon. Se você não sabe do que se trata, recomendo este vídeo no Manual do Usuário ou este texto do mesmo site.
Até 3 meses atrás, a novidade era o Koo – insira aqui sua piadoca, mas o que sobrevive mesmo como novidade é uma não-novidade: uma rede que está aí desde 2016. Na verdade, não é uma questão de momento: é um certo conhecimento geral na rede que sempre que o Twitter tem algum problema, ocorrem ondas de migração para o Mastodon. E a última foi a maior, deixando o Mastodon com mais de 2 milhões de usuários ativos.
# Por que criar outra instância do Mastodon?
Eu comentava no Twitter que queria criar uma instância, mas a perspectiva do quanto isso me daria trabalho sempre me fez ficar com um pé muito atrás. O curioso é que com a aquisição do Twitter pelo magnata fanfarrão Elon Musk anunciada em abril de 2022, muitas pessoas próximas já me falavam para eu criar a instância. Pessoalmente, não vejo como motivo o suficiente para uma migração coletiva, porque todas as grandes plataformas sociais são dominadas pelo capitalismo de dados, vigilância, “economia da atenção”, ou seja lá qual for o termo mais adequado.
Politicamente, muita gente do Twitter que conheço gostaria que isso mudasse, porém, assim como eu, diria que falta leitura e análise mais fria do ecossistema. Não é um pequeno grupo de pessoas que só quer ver fotos de gatinhos e compartilhar nudes sem ter que lidar com neonazis que resolverão esse problema político maior. De qualquer modo, permanece a questão da construção dessa alternativa, seja em termos de tecnologias no senso comum – servidores, códigos, etc – e tecnologias no sentido de práticas coletivas para resolver conflitos, como é no caso da moderação e gerenciamento de comunidades.
Por ser uma rede de redes, o Fediverso em sua totalidade, e não apenas o Mastodon, pode fazer parte dessa construção. E, na minha avaliação de abril de 2022 (data em que anunciaram possível aquisição do Twitter), existiam pouquíssimas instâncias brasileiras. O Brasil é laboratório de várias plataformas, é o alvo escolhido sempre para testes A/B de novas funcionalidades das redes sociais (fleets do twitter começou aqui, para ficar só num exemplo). O Brasil é o lugar onde o Fediverso/Mastodon mais tem terreno fértil para crescer. Há demanda, e não existindo novas instâncias, essa demanda vai para plataformas: Discord/Telegram de influencers ou apoiadores desses influencers. Isso não necessariamente é um problema, mas acaba criando uma lógica de isolamento dentre essas comunidades que poderiam estar interagindo entre si. E essa interação é possível com o Fediverso.
Além do que já foi exposto, cuidar tecnicamente de um serviço que fica disponível para dezenas ou quem sabe um dia centenas de pessoas vale a pena para quem tem minha profissão. É uma experiência boa de ter. Por mais que eu não me motive completamente pela compra do Twitter, muita gente acabou tendo uma visão mais apocalíptica do que aconteceria (mais a frente, comento isso). Quando a aquisição pelo dono da fábrica de carrinhos de bate-bate foi confirmada em 27 de outubro, comecei a chamar pessoas para ajudar (até porque nem só de manutenção técnica vive a internet, afinal). Depois disso, subi o servidor, definimos regras, lendo e observando como outras instâncias brasileiras se comportavam e pronto. Estamos no ar há 3 meses, já fizemos upgrade para a versão 4 (que foi lançada no meio do caos da grande migração de usuários) e temos 40 e poucos usuários ativos (e uns 90 cadastrados). Caso tenha interesse, burnthis.town é o link. A ideia do nome foi de um colega de trabalho da minha esposa, que não tem uma conta no site rsrsrsrs.
# Fim do Twitter?
Antes de entrar no mérito, gostaria de dizer que é o fim do Twitter pelo menos para mim. Pelo menos da forma com que meus 500 seguidores estão acostumados. A conta @camaradajimi
será deletada quando eu conseguir criar outra que só postará links para este site. Até nisso o twitter está com problemas. Não consigo criar uma conta enquanto escrevo isto (17/01/2023). Posso até postar outras coisas na conta nova, mas não vou mais interagir com as pessoas da maneira que eu fazia no passado. Provavelmente vou usá-la para reclamar alguma coisa com o Itaú ou a Vivo, por exemplo.
O Twitter admitiu publicamente que está sabotando aplicativos de terceiros. Eu, numa tentativa de manter minha conta atual, quis tentar deletar meus tweets antigos, usando o semiphemeral.com. Porém, a API só libera os últimos 3 meses, ou coisa assim. Como o projeto é open source, ponderei usar a conexão dele com a API do Twitter para deletar meus tweets antigos, caso a funcionalidade já não existisse, em parcelas, ou usando o arquivo dos meus tweets que tenho baixado. No processo de tentar rodar esse aplicativo em modo desenvolvedor na minha máquina, apliquei para um processo que o Twitter precisaria aprovar criação de chaves da API para eu usar. Seguem na sequência, capturas de tela dos e-mails.
Confesso que eu já não tinha muita paciência nessa altura do campeonato.
Eles não me responderam, mas uns dias depois apareceu outro e-mail.
Porém, quando eu vi isso, já era tarde demais. Mesmo com as chaves de API na mão, nada funcionava direito.
Em resumo, fui pego no meio dessa confusão toda, minha aplicação foi aprovada para logo em seguida ser bloqueada. Ou assim eu suponho. Existem vários pontos de falha aqui, mas não tenho paciência, tempo ou vontade mais de verificá-las.
Ainda há quem diga, agora com menos ênfase, que o Twitter vai acabar. Algumas dessas pessoas só estão desabafando seu pensamento desejoso, mas admito que há mérito nessa ideia. Me lembro que existem alegações de que alguns micro-serviços poderiam sair do ar, em função da demissão em massa que aconteceu logo que o arrotador assumiu como CEO. Não tenho muita vontade de pesquisar, mas fica aqui só um link sobre os desvarios cometidos.
Acabar eu diria que não vai, mas acabar da maneira como conhecemos (conhecíamos) já aconteceu, na verdade. Vários criminosos e golpistas – no sentido de golpe de estado e de golpe na praça – foram readmitidos no site, não há mais obrigações de transparência por não ser mais uma empresa de capital aberto e o dono é o inepto arrotador que fez o carrinho de bate-bate ir para o espaço.