graciano codes

uma edição boba da logo da globo com a do facebook

O facebook é a rede globo do mundo

Um pequeno aviso: eu explico coisas básicas do que é internet, HTML e falo um pouco do surgimento do facebook. Se o leitor já souber disso, pule a parte do hipertexto, motores de busca e redes sociais ali de baixo.

A mídia, antes da internet, era sobre poderosos que mantinham seus espaços. Poderosos que definiam quem seria ouvido e como essa mensagem chegaria na população. Seja no rádio ou na TV. Agora, é falado por aí que qualquer um pode ser ouvido; mas isso não é 100% verdade.

Qualquer um pode criar e encontrar conteúdo de qualidade, isso é verdade. Qualquer um pode ter acesso a conhecimento sobre como criar e melhorar esse conteúdo, seja jornalístico, artístico, entretenimento, etc — apesar de isto estar sendo constantemente ameaçado por ações como SOPA, PIPA, o TPP e no Brasil o limite abusivo de franquia na internet fixa. Mas como esse conteúdo chega para o seu público? Antes é necessário falar do que é necessariamente a internet e como ela é feita. É necessário explicar o básico disso porque o mais para frente será argumentado que o facebook se tornou a “anti-internet”.

# No início, era o hipertexto

Hipertexto é o texto que consegue se auto-referenciar ou referenciar outros. O HTML foi a linguagem de código que permitiu que isso fosse possível. Daí a ideia do link, da URL para outros textos. Depois, com a capacidade de processamento, veio o multimídia: vídeos, imagens, gifs, etc.

# Surgimento de motores de busca

Ao entrar num texto, você pode ir para outro, para outro… Daí foi necessário um ou mais pontos de partida, para encontrar e categorizar isso. Obviamente estou falando do Google.

# Redes sociais e o facebook

E fizeram também as redes sociais para se encontrar com seus amiguinhos. Em geral, as redes sociais possuem linhas do tempo (timeline, dashboard, ou o nome que quiser). Nelas, o conteúdo chega ao usuário de acordo com seus interesses, normalmente, por ordem cronológica (o único negócio que eu ouço falar que chama o público alvo de usuário é o tráfico de drogas).

As redes sociais criam uma experiência baseada na atenção e não no ser humano. Fazem isso porque são legalmente obrigadas a buscar o lucro. A consequência dessa prática é a priorização de lógicas que façam sua atenção ir para onde o seu consumo potencialmente irá. Aquela velha história de “você é o produto”. O objetivo é sempre manter o usuário na ferramenta o máximo de tempo possível. Daí surgiu o famoso algoritmo do face, explicado no vídeo abaixo.

O Problema com o facebook. Clique na engrenagem e procure a legenda em português.

# Freebooting, Fraudes e outras sacanagens

Indício de Fraude no Facebook. Legendas em português também ;)

Uma consequência disso é o freebooting. Quando alguém cria um vídeo que viraliza no youtube, muitas páginas no facebook baixam e postam esse vídeo como se o mesmo fosse delas (não necessariamente com a intenção ruim, mas convenhamos que o inferno está cheio de boas intenções). Vídeos postados nativamente no facebook são priorizados pelo seu algoritmo em detrimento de fontes externas (youtube, vimeo, vine, etc) por causa deste objetivo de prender a atenção. Consequentemente, os vídeos “freebootados” são priorizados. Anúncios são feitos em cima disso (direta e indiretamente) e o facebook lucra. Por isso, ao fazer uma denúncia, pouquíssimo ou nada é feito. Além do fato de o criador do conteúdo original não ganhar um centavo neste processo. O facebook não devolve um centavo do dinheiro que lucra com anúncios no vídeo postado nativamente. O mesmo processo acontece dentro do próprio facebook. Se uma página compartilha post de outra, isso não tem tanto alcance quanto “roubar” o conteúdo.

Além disso, as melhores piadas do facebook vêm de prints do twitter e não de links para os tweets.

Mais da metade da população brasileira acha que o facebook está separado da internet, como evidenciado no artigo acima. Lembram de como a internet surgiu baseado na ideia do hipertexto? Dos links para outros lugares? O facebook acabou se tornando a anti-internet, inclusive com sua proposta do “Internet.org” (agora chamado de Free Basics) que diz tornar o acesso à internet de graça, mas só para o facebook e sites “parceiros”. Ora, se a maioria dos usuários da internet já estão no facebook e eles já têm suas estratégias para prender a atenção destes, resta buscar “mais mercado” onde ele ainda não existe: quem ainda não tem acesso à internet. Mas eles não são tão bonzinhos assim, e vão criar um verdadeiro pacote de TV a cabo de sites disponíveis de graça. E os sites que não estiverem na lista só são acessíveis se a pessoa pagar. Inclusive o MPF considera o projeto ilegal, por ferir a neutralidade do marco civil. De novo: o objetivo é sempre manter o usuário no facebook o máximo de tempo possível, afastando-o do “resto” da web.

Ainda existem outros casos de possíveis maracutaias por parte do facebook, mas acho que já deu pra entender. A ideia aqui é que eles estão se tornando “a globo do mundo”. Quem define o que chega a você não é uma ideia abstrata de um algoritmo. Computadores são burros, só fazem o que a gente manda. E quem manda, neste caso, definitivamente não somos nós, meros mortais.

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